Colunistas -

Crônica De Uma Derrota Não Anunciada (29/08/2017)

Há derrotas anunciadas. Aquelas que olhamos os dois times, o local, a arbitragem... e pensamos: ?acho que não vai dar?. Não era o caso. Essa não era anunciada. Ao contrário, a vitória era líquida e certa, contra um time que é pior que o nosso. A nossa vitória é que era anunciada. Mas ela não veio. Em vez dela, veio uma derrota amarga, difícil de digerir.

Dia 1. Uma derrota do Fluminense nunca acaba quando termina. Ao menos não para mim. A dor que ela gera fica. Gira em volta, persiste, insiste e não desiste. Vejo pessoas próximas e me surpreendo como elas viram a página rapidamente. Alguns lamentam a derrota, reclamam um pouco, xingam a diretoria, alguns jogadores, mas logo seguem a vida. Parecem fazer como o samba de Paulo Vanzolini: reconhecem a queda e não desanimam. Levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima. Eu não. Eu até reconheço a queda, mas desanimo. Fico com vontade de desistir. De não acompanhar mais. Não torcer tanto. Evitar outras decepções como aquela. Acho que não vou levantar mais.

Aí vêm as horas seguintes. Tudo parece sem graça. A comida predileta fica sem sabor. Não quero ligar a TV, para não correr o risco de ver as cenas trágicas que vi ao vivo e que pretendo não rever. Os amigos? Que coisa estranha esses amigos, que não compreendem essa dor. São amigos de todas as horas, menos dessas. Não parecem entender. Não respeitam. E em alguns casos, ainda tripudiam. Não, não quero ver os amigos também. Grupos de internet? Facebook, Twitter, WhatsApp? Não. Quero distância deles. Os tricolores, quase todos, estão contaminados pela política, de um lado ou de outro.

Sair para a rua, às vezes, pode ser uma boa tentativa. Mas não vou sozinho. Ela vai comigo. Aquela dor incômoda me acompanha, me segue, me perturba, se faz presente, cruel e implacável. Tenho momentos de distração e até de tranquilidade, mas aí ela vem e me lembra: ?ainda estou aqui?.

Nada anima, nada funciona, nada revigora. Como um pouco, porque é preciso, mas nenhuma vontade, nenhum prazer. Resta dormir. Dormir descansa e relaxa, certo? Deveria, com certeza, mas não é bem assim. Não nesse dia. Aquela dor incômoda quer dormir comigo. Está presente na cama, no travesseiro, no pensamento. Não há paz. Paz e sono são próximos. Sem ela, ele tarda a chegar. E quando chega não é natural, nem tranquilo, nem reparador. É agitado, com sonhos ilusórios, que não foi assim. Não perdemos. Ganhamos. Tudo muito confuso. Com confusão e sem paz, o sono se vai. Os olhos se abrem no escuro. Ainda há uma fração de segundo antes de aquela dor me cutucar e dizer: ?ainda estou aqui?.

Dia 2. O dia seguinte é domingo, mas a léguas de distância daquele samba antigo que dizia que ?o domingo é de alegria?. O domingo é amargo, pesado, temperado por uma vontade enorme de desaparecer. Não há vontade de fazer nada. O melhor mesmo é desistir. Mudar de vida. Deixar de torcer tanto e de sofrer tanto. Nada de ver jogos. Quero fazer de conta que essa rodada não aconteceu. Um cinema no fim da tarde cai bem. Distrai. São duas horas absorto numa história diferente daquela que quero esquecer.

Ao final daquele dia, a tragédia já parece um pouco menor. Aquela dor começa a perder espaço para coisas do dia a dia, que aos poucos voltam a me ocupar a mente. Começo a pensar melhor e analisar com mais racionalidade o que aconteceu. Aos poucos, o desastre começa a se parecer apenas como uma derrota no futebol.

Dia 3. Desistir? Jamais. Eternamente tricolor. Já ansioso pelo próximo jogo.

-


 
Desculpe, não há artigos no momento.
  


Copyright (c) 1998-2024 Sempre Flu - Todos os direitos reservados


Fatal error: Uncaught Error: Object of class mysqli_result could not be converted to string in /home/sempreflu/sempreflu.com.br/tools/control.php:19 Stack trace: #0 /home/sempreflu/sempreflu.com.br/tools/control.php(19): array_unique(Array) #1 [internal function]: shutdown() #2 {main} thrown in /home/sempreflu/sempreflu.com.br/tools/control.php on line 19