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A Dor De Abel Braga (29/07/2017)

Mais do que o técnico de um time, ou um profissional do futebol que vem e passa, Abel Braga é para a torcida do Fluminense uma espécie de amigo, um pai para os jogadores mais jovens, um irmão para a turma mais velha.

É um cara em que todos nós, tricolores, confiamos. É um de nós.

Abelão é um sujeito humano, paternalista, afetuoso, que só consegue trabalhar onde estabelece laços de amizade, confiança e espírito coletivo.

Apesar de todo o sucesso profissional, não é arrogante ou vaidoso, e os repórteres que acompanham o Flu sabem e são testemunhas do que digo.

Campeão brasileiro com o Flu, mundial e da Libertadores com o Inter, Abelão deixa laços afetivos por onde passa. Como na Ponte Preta, que dirigiu em 2003 com salários de todo o elenco atrasados em três a quatro meses, e onde evitou um rebaixamento dado como certo.

Os atletas jogaram por ele.

A perda de um filho deve ser algo devastador para qualquer ser humano normal. Imaginem, amigos, para alguém assim.

Quando o centro-avante Michael, na época um menino, foi flagrado no antidoping em 2013, e praticamente liquidou a própria carreira, Abel abraçou-o como um a filho, ofereceu-lhe a própria casa, jurou que o apoiaria.

Em 2012, eu estava em Londres e visitava com o Rodrigo, meu filho mais velho, o estádio do Arsenal, o Emirates Stadium. Ao longo do tour, conhecemos um gaúcho, funcionário do Departamento de Futebol do Internacional de Porto Alegre, que estava lá para visitar o neto, que estava nas categorias de base do Chelsea.

O cara me dizia, e ao meu filho Rodrigo, que se dependesse dele e de boa parte dos funcionários e da torcida do Inter, Abel ficaria lá para sempre. Tinha estabelecido uma relação de carinho e respeito. Como bonachão, na hora das refeições pegava com os dedos a carne no prato dos outros; tinha o carinho de todo mundo. Deu ao Inter uma Libertadores e um Mundial.

Quem ainda tem a paciência de ler as bobagens que escrevo aqui sabe que eu sou um abelista. Critico algumas vezes suas decisões, acho que o time anda mal treinado, mas não consigo imaginar ninguém no lugar dele. É um representante da torcida na direção do time. Um tricolor autêntico e um ser humano especial.

Nunca tive o prazer de conhecer Abel Braga pessoalmente, mas acompanho-lhe a carreira desde o início, em 1972, quando esteve na seleção brasileira de base, que disputou o título de Toulon, na França. Nunca o perdi de vista, porque achava que seria um personagem do futebol brasileiro.

Em todas as vezes que chegou para dirigir o Flu, escrevi sobre sua história de vida, menino de classe média baixa da Vila da Penha, filho de pai português e vascaíno, dono de oficina mecânica. Repeti velhas histórias, como a de que toca piano, mas em vez de puxar o banco para tocar, puxava o piano.

As histórias de que fala bem francês e é um grande conhecedor de vinhos. Dono de um restaurante de massas e um gourmet ? talvez mais comilão do que gourmet.

Ou a história ainda mais velha, de quando, como jogador juvenil do Fluminense (era como se chamavam os jogadores da base antes de 1980, infanto-juvenis e juvenis), foi convocado para a seleção brasileira juvenil. Um repórter ligou para a casa dele e foi atendido pela mãe do jogador:

-- O Abel está?

Naquela época, o Fluminense tinha espaço na mídia, e seus jogadores da base eram procurados pela imprensa.

-- Qual deles? - perguntou a mãe - O Abelão ou o Abelinho?

O repórter pensou na imagem do zagueiro, com 1m88, e respondeu:

-- O Abelão.

E ficou surpreso quando veio o velho Abel, dono da oficina mecânica, com o forte sotaque lusitano:

-- Ah, você quer falar com o meu filho. Abelinho, telefone pra você! É um gajo do jornal!

Abel não merecia a tragédia que lhe aconteceu. Nenhum pai merece isso. Tenho a certeza de que todos os tricolores estão solidários com o nosso técnico.

Força nesta hora, Abelão. Estamos com você.

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