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A Velhinha Do Subúrbio E Os "ativos Voláteis" (22/06/2017)

No velho e já falecido Jornal do Brasil, começou no fim dos anos 1960 um debate sobre linguagem específica para cada área, principalmente economia. O Brasil crescia a 10% ao ano, um ritmo chinês, e a economia se modernizou, o que exigiu a criação de uma Editoria de Economia.

O editor geral Alberto Dines exigiu então que se abandonasse nos textos jornalísticos o ?economês?, o jargão técnico usado pelos economistas, e que os repórteres e redatores escrevessem em linguagem simples, que fosse compreendida até mesmo pela velhinha do subúrbio que ia à esquina comprar pão para o café da manhã.

Houve contestação. Alguns jornalistas argumentaram que a velhinha não tinha nenhum interesse em saber sobre balança comercial, sobre macroeconomia, e jamais entenderia do assunto. O debate interno prosseguiu quando Paulo Henrique Amorim assumiu no fim dos anos 70, quando Ricardo Noblat assumiu a chefia da sucursal de Brasília nos anos 80, cargo ocupado no fim dos anos 90 pela jornalista Cláudia Safatle. Tudo isso está contado na história do Jornal do Brasil que lançarei em setembro pela Editora Objetiva.

Por que todo esse lero-lero, e o que tem isso a ver com o Fluminense? É que senti o mesmo estranhamento quando vi o nosso presidente chamando nossos jogadores de ?ativos voláteis? e estádios de futebol de ?equipamentos?. A linguagem não prejudica um trabalho administrativo bem feito, mas certamente afasta de forma dramática o presidente do Fluminense do seu torcedor, única razão de existir um clube de futebol.

Ele pode cuidar do Fluminense com técnicas modernas de administração, enxugar gastos, mas por favor, jogador não é ?ativo volátil? e estádio não é ?equipamento?. É preciso simplificar a linguagem, dirigir-se ao público de forma clara, não empolada, porque fica a impressão de que está enrolando, que não tem nenhum interesse em futebol, ou que está tentando impressionar jornalistas, apresentar-se como alguém ?competente e antenado?.

Não, mil vezes não! Abad precisa se comunicar principalmente com o nosso torcedor. O jornalista é apenas o veículo transmissor. E não pode ser um destruidor de esperanças, isso afasta o tricolor dos estádios, cria um ambiente de desolação.

É preciso também que o nosso inexistente vice-presidente de futebol pare de estipular publicamente preços ridículos por nossos jovens ativos voláteis, como os ativos Wendel e Richarlisson. O bom negociador não faz isso. Aliás, dirigente de futebol não pode anunciar que os ativos estão à venda. Ao contrário. Isso é elementar no mundo dos negócios.

A venda de Neymar pelo Santos era inevitável, mas enquanto foi possível o então presidente Luís Álvaro dizia que o ?ativo? não sairia, anunciou plano de carreira e conseguiu patrocinadores exclusivos para o jogador, como forma de manter altos salários. O ?ativo volátil? com corte moicano deu ao Santos uma Libertadores antes de sair.

A venda de Neymar ao Barcelona foi um desastre para todo mundo, até para o Barça e, principalmente, para o Santos. Só se deram bem na parada o empresário do jogador, o pai de Neymar, notório pilantra, e o então presidente do Barça, Sandro Rosell, que está preso por conta do trambique fiscal e do roubo contra o seu clube. Mas isso é outra história.

O que quero dizer é que o tal de Laor, então presidente do Santos (suspeitíssimo de trapaças e trambiques em sua vida profissional), foi competente para manter Neymar o máximo possível de tempo.

Patrocinadores e investidores podem cair do céu em tempos de bonança econômica, mas em tempos de crise é preciso correr atrás, elaborar projetos e metas, e tentar vendê-los para potenciais interessados.

Criatividade e trabalho, eis o nome do jogo. O Flamengo fez um acordo com a Uber para um serviço especial: os turistas torcedores deles que chegam ao Rio terão um automóvel para levá-los à Gávea para uma conversa com Zico e uma visita ao museu do urubu.

Posso estar completamente errado, e as ideias e projetos estarem neste momento em ebulição nas Laranjeiras. Se for o caso, peço antecipadamente humildes desculpas.

Mas não é o que parece. Conheço pessoalmente a maioria dos membros da Flusócio e o próprio presidente Pedro Abad. Atesto com a máxima segurança que são todos, principalmente o Abad, tricolores apaixonados e honestos como todos nós, e acima de quaisquer suspeitas.

Mas fica uma incômoda impressão de paralisia administrativa, de que a ausência de patrocinadores, ideias e projetos é consequência de amadorismo, como se o problema da falta de receitas fosse um fato da vida, da natureza, como as epidemias, os terremotos ou as tempestades.

Por onde andarão também os empresários que iriam apoiar a candidatura de Cacá e de Pedro Antônio? Não poderiam eles conseguir patrocínio máster e ajudar com projetos?

Bom, sobre a bola rolando em campo, estou gostando da intensa renovação de jovens promovida de forma compulsória pelo Abelão. E podemos bater o São Paulo naquela ruína do Morumbi.

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