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Abel Carlos Braga (07/03/2017)

É interessante notar que ainda há tricolores que nutrem alguma implicância com Abel Braga. Acusam-no de formar panelinhas no grupo de jogadores, sei lá mais do que. Mas é incontestável, mesmo para os mais chatos, que não há treinador mais identificado com o Fluminense.

Aliás, há sim um outro tão identificado com o Flu quanto ele, mas está aposentado: Carlos Alberto Parreira. Por isso, não tenho o menor receio de dizer que o técnico ideal para o nosso clube é Abel Braga. Nem mesmo Guardiola, Jurgen Klopp, Diego Simeone ou Antonio Conte, os melhores do mundo, conseguiriam tão bons resultados.

Abelão é uma grande personalidade do futebol brasileiro, e deveria ficar no clube para sempre. Quando não conseguisse mais treinar o time em campo, seria promovido a gerente de futebol, a supervisor, alguma coisa assim. Suas entrevistas, às vezes, são emocionalmente exageradas, superlativas, adjetivadas demais. Normal, é da personalidade dele.

Nunca ouvi uma queixa de qualquer jogador contra ele, seja de injustiça, perseguição, de erro tático, nada. Claro que ele comete seus erros, é natural, não é perfeito. Alguns ?jornalistas? dizem que ele é um simples motivador, um animador de grupo, um ?gerente de vestiário?, e que é fraco taticamente, seus treinos seriam burocráticos. Mas jornalista esportivo não é para ser levado a sério. Palavra de jornalista.

Chega a ser absurda a diferença entre o que ele diz, o que faz e como trabalha em relação ao antecessor, Levir Culpi. Com Levir, todos nós tínhamos perdido o prazer de ver o Flu jogar. Na verdade, era um sofrimento, um sacrifício, uma obrigação penosa. Éramos humilhados pelo jeitão caipira blasé, pelo descaso com o clube e com a torcida, pelo humor de gosto duvidoso, pela evidente preguiça do então treinador.

Abel sacudiu o Fluminense e sua torcida, chacoalhou tudo, impossível não ser contaminado pelo seu alto astral, sua motivação, sua alegria em trabalhar no clube. Claro que os jogadores sentiram a mesma coisa, tanto em relação a Levir quanto a Abel. Quem no ano passado andava murcho e chupando sangue em campo, ganhou vida nova.

Em 2012, estava eu com meu filho mais velho visitando o estádio do Arsenal, em Londres, e conhecemos um homem de seus 60 anos com o neto, na mesma visita. Gaúcho e funcionário do departamento de futebol do Internacional, explicou-nos que o neto morava em Londres com os pais e estava na escolinha do Chelsea.

Quando soube que éramos tricolores, começou a elogiar sem parar o Abel, que iria ser campeão brasileiro naquele ano com o Flu. Disse que o técnico era idolatrado não apenas pela torcida, mas pelos funcionários do Inter, ele próprio incluído.

Contou que Abel abraçava todo mundo, brincava com todos, principalmente os mais humildes, metia a mão no prato alheio para roubar carne, aquele amigão de personalidade forte de que todos gostam. Inclusive os jogadores. A maioria no Inter, segundo ele, gostaria que Abel tivesse um contrato vitalício.

Já contei aqui algumas passagens da carreira do Abel, filho de pai português também chamado Abel, dono de oficina mecânica na Penha e torcedor do Vasco. Quando ainda era juvenil do Fluminense, começo dos anos 70 (não havia juniores), foi convocado para a seleção que disputaria o mundial juvenil em Cannes, na França.

Um repórter ligou para a casa dele, para entrevistá-lo: ?Gostaria de falar com o Abel?. E a mãe: ?Qual deles, o Abelão ou o Abelinho?? O repórter pensou no zagueirão de 1m88 e seguiu a lógica: ?O Abelão?. E ouviu surpreso a voz do velho Abel, com seu sotaque lusitano. ?Ah, tu queres o Abelinho. Ó Abelinho, telefone pra você!?.

Abel nunca se firmou como titular do Fluminense. Primeiro, havia a dupla Galhardo e Assis, campeões brasileiros de 1970 e campeões cariocas ano sim, ano não, desde 1969. Mesmo na seleção brasileira juvenil campeã em Cannes, em 1972, era reserva de Levir Culpi, o capitão do time. Carlos Alberto Pintinho era o único titular do Flu.

Depois de Galhardo e Assis, veio Edinho, e Francisco Horta, ao montar a máquina, não dava a menor importância a jogadores da base. Trouxe Pescuma da Lusa paulista, depois Miguel do Vasco, e Abel acabou envolvido em troca-troca. No Vasco sim, ganhou a posição e mostrou que era um excelente zagueiro.

Quando veio pela primeira vez dirigir o Flu, em 2005, já tinha jogado e dirigido clubes na França e em Portugal, e dizia-se na ?imprensa? esportiva que era identificado com o Vasco. Ele tratou de desmentir: ?Fui criado e formado no Fluminense, e sou totalmente identificado com o clube, sou tricolor?.

Só não consegui entender até hoje dois momentos de Abel no Fluminense, e gostaria, um dia, de perguntar a ele sobre isso: a derrocada de 2005, quando precisávamos apenas de um ponto em cinco jogos para chegar à Libertadores, e perdemos todos os cinco; e o começo desastroso de 2013, que resultou em sua precipitada demissão.

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