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Nós Também Somos Charlie! (12/01/2015)

Eis que o mundo assistiu, incrédulo, a mais uma demonstração incrível de intolerância e desrespeito à liberdade de expressão. O atentado em Paris, contra o semanário Charlie Hebdo, deixa-nos todos desanimados, com menos fé na possibilidade de este planeta um dia vir a ser pacífico, sem fronteiras territoriais, religiosas, de nacionalidade ou de etnia. É realmente uma pena. Ao mesmo tempo foi um alento ver que as pessoas de bem não se intimidaram e fizeram questão de dizer ao mundo: "Je suis Charlie", "I am Charlie", "Yo soy Charlie" ou "Eu sou Charlie". Nós todos, tricolores, também somos. Os seres humanos dignos não podem se render ao terrorismo.

Este é o assunto do momento no mundo, e achei importante registrar também aqui, que nós também somos Charlie. Acho que posso falar em nome de todos os grupos de que sou integrante. Dos sócios do Fluminense, dos conselheiros do Fluminense, do grupo político Flusócio, da SampaFlu e da torcida inteira.

Mas este espaço é do Fluminense. O que o Fluminense tem a ver com o que aconteceu na França?

Nada, exceto por fazer parte deste mundo louco, onde ainda habitam assassinos de inocentes. Mas se estamos falando de imprensa, um tricolor sempre tem o que dizer. Nosso clube e nossa torcida já viveram grandes embates com a imprensa. Hoje a imprensa é vista como vítima, e na França foi mesmo, mas muitas vezes ela pode ser a agressora, e não raro a vítima é simplesmente a verdade, que a imprensa tem ou deveria ter a função de difundir e defender.

E eis que se passou um ano.

Nós ainda lembramos o que vocês fizeram no verão passado, Mauro César, Antero Greco, José Trajano, Renato Maurício Prado (sempre ele), André Rizek, Juca Kfouri e tantos outros.

Pois é, amigos. A imprensa, o chamado "Quarto Poder", é fundamental e precisa ser livre. Mas há uma contrapartida: ela precisa ser responsável. A imprensa tem um poder de fogo absurdo. Ela pode transformar mentiras em verdades, e vice versa, como num passe de mágica.

Fez um ano. Quem bateu, parece ter esquecido. Convenientemente, eu diria. Quem apanhou não esquece. Alguns tricolores não perdoam a emissora ESPN Brasil até hoje, e recusam-se a assistir seus programas. Não foi só ela, obviamente, mas aquela emissora pareceu ter tomado como bandeira institucional o esculacho ao Fluminense. E isso, amigos, nós não perdoamos.

Parênteses para lembrar que não são todos. Há uma banda boa na imprensa. Preciso fazer uma menção ao Paulo Vinicius Coelho, o PVC, que por vezes parecia sentir-se constrangido nos programas da ESPN daquela fase. Até se omitiu algumas vezes, mas ao final deixou claro que o Fluminense não foi o vilão da história como todos os seus pares insistiam em tentar apregoar. Curiosamente foi o último ano de PVC naquela emissora. Boa sorte, Paulo! Que continue defendendo a verdade, independente das pressões.

Sim, entendo que um clube grande ser salvo do rebaixamento por um pequeno, sem que os resultados em campo justificassem isso, gere revoltas em quem acompanha o futebol. Mas um profissional de imprensa precisa manter a serenidade e aguardar que os fatos todos sejam apurados. A atuação de grande parcela da imprensa foi uma negação ao bom jornalismo. Agiram apenas como torcedores, algumas vezes até com bairrismo. Usaram o discurso fácil e demagógico do Grande x Pequeno, Davi x Golias, Grande do Rio x Pequeno de São Paulo. Usaram o "rei do tapetão", ofensa ao Fluminense que não se sustenta em fatos, ao menos nos recentes. Não foi somente a ESPN Brasil, mas como dela parecia vir uma orientação de cima pela difamação do Fluminense, ficou marcada, talvez para sempre, como "imprensa marrom" pela torcida tricolor ou qualquer um que tivesse acompanhado com isenção.

Renato Mauricio Prado é o que todos sabemos. É um torcedor com mídia. Jornalismo passa muito longe dali. Ele sempre usou seu espaço ? a meu ver inacreditavelmente maior que sua relevância ? para defender interesses do Flamengo e tripudiar dos adversários sempre que possível. Verdade? Pra quê? Lembramos bem o destempero de Renato quando o Fluminense trouxe Fred. Dizia que era muito dinheiro, que estavam inflacionando o futebol, que aquilo era um absurdo e outros desvarios mais. Mais tarde, parecia ter orgasmos múltiplos em sua coluna quando o Flamengo gastava mais ainda para trazer Ronaldinho Gaúcho.

Para desespero dele, Fred ajudou o Fluminense em dois títulos nacionais e Ronaldinho só foi brilhar no Atlético.

Pois bem, amigos, esses "jornalistas" ? muitas aspas ? acima, consideravam a Portuguesa a coitadinha que foi tripudiada por um cruel clube grande. E o que vimos depois? Descoberto cassino clandestino dentro da sede do clube, com a conivência do então presidente e surgiram denúncias de dentro do Canindé informando que a Portuguesa foi subornada para escalar jogador irregular na última rodada do campeonato de 2013. A Portuguesa fez campanha grotesca e foi a última colocada da segunda divisão, caindo assim para a terceira. Silêncio.

Silêncio conveniente. Os mesmos jornalistas citados acima ? exceção para PVC - confortavelmente preferem agora falar de outros assuntos. No Brasil não vale a pena criticar o Corinthians (como vimos bem em 1997, em outra grande falcatrua do futebol brasileiro que foi abafada) ou o Flamengo (ladrilheiro, papeletas amarelas, Libertadores de 81, finais suspeitas de estaduais). Não, melhor abafar. Haveria muita reclamação daquelas torcidas. A audiência cairia.

E com isso a grande, a enorme e inacreditável coincidência entre Flamengo e Portuguesa na última rodada de 2013 vai sendo varrida para baixo do tapete da história do futebol brasileiro. Esse sim deve ser um "tapetão".

É deprimente mas é previsível. Como esperar que um escândalo como esse seja apurado, se o maior órgão de imprensa do país, a Rede Globo, faz questão de privilegiar financeiramente ? sem respaldo esportivo, diga-se - os dois clubes de maior torcida e o maior suspeito no caso é justamente um deles?

Estamos todos revoltados com a barbárie ocorrida na França, contra o semanário Charlie Hebdo. A liberdade de crítica deve ser sempre respeitada e garantida. O jornal foi atacado por fazer humor. Total absurdo!

Voltando ao Brasil, o que se critica aqui não é a liberdade de expressão, é a liberdade de agressão à verdade. Liberdade de imprensa não deveria ser confundida com liberdade de mentir, omitir ou deturpar a verdade para milhares ou milhões de pessoas.

Pela liberdade de imprensa, sempre. Mas que a imprensa tenha compromisso com a verdade, sempre.

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