Na vida arrependi-me de poucas coisas que fiz. No futebol menos ainda. Agradeço ao meu pai por ter sido tricolor e por ter feito todos os seus filhos tricolores. Ser tricolor é tudo de bom. Ter me tornado fanático pelo Fluminense, mais que todos da família, acho, também foi ótimo. Mas há 31 anos eu tomei uma atitude de que me arrependo muito até hoje.

O Maracanã estava lindo, lotado como não podemos ver mais, hoje em dia, vilipendiado que ele foi pelas seguidas reformas que empobreceram o estádio e enriqueceram pessoas. Mas aquele dia, ao que tudo indicava, seria um dia triste. Um dia de eliminação. Pelo menos era o que estava gritando a torcida adversária. ?Eliminado, eliminado. ? Quando no final do segundo tempo, o grande placar - que na época mostrava o tempo de jogo ? mostrou 45, a bola estava nos pés de Junior. O grito de ?eliminado? ficou ainda mais forte e insuportável.

Saí. Não queria ver aquilo. Peguei o rumo das rampas de descida do estádio. Porém no meio do caminho, antes de chegar aos portões, algo aconteceu. Um rugido vindo lá de dentro: GOL!
?Meu Deus! Os caras ainda marcaram? Ou não? ? Vários tricolores que também tinham saído votavam correndo. Resolvi voltar também e no que mudei de rumo, subindo a rampa de volta, deparei-me com um exército inimigo descendo. Passavam com fisionomias fechadas e olhavam com ódio para a minha camisa branca com escudo do Fluminense, numa época em que ainda era possível sobreviver a uma situação desse tipo.

Lá dentro a torcida tricolor estava eufórica! As bandeiras tremulavam e o grito de ?eliminado? agora era nosso.

Vi o gol depois na tv. Foi a comemoração mais emocionante e emocionada que vi na vida. Assis corria na direção da torcida com as mãos para o alto como que agradecendo a Deus por aquele momento sublime.

O adversário estava de fato eliminado, mas o Fluminense ainda não era o campeão de 1983. Seria na quarta seguinte, sem jogar, na partida entre Flamengo e Bangu. Mas o jogo histórico daquela conquista foi mesmo o Fla-Flu de domingo. O gol histórico que eu não vi.

No ano seguinte o destino colocou novamente aqueles dois adversários frente a frente. A partida dessa vez era definitiva. Quem vencesse seria o campeão. O time do adversário era fortíssimo e o Fluminense também. O resultado era imprevisível. Apenas uma coisa era líquida e certa para mim: jamais sairia antes do fim, acontecesse o que acontecesse. O jogo foi disputado, tenso, com lances perigosos de ambos os lados. No segundo tempo Aldo tabelou com Renê e cruzou para a área. Até ali era um lance absolutamente normal. O que viria a seguir é que foi fantástico! Um salto impressionante e a mais bela cabeçada da história do Maracanã, que estufou as redes do lado esquerdo de Fillol.

O Fluminense era bicampeão e Assis tornava-se ídolo eterno.

Bem mais tarde eu vim a conhecer Assis pessoalmente, já após ele ter parado de jogar. O Carrasco sempre foi humilde e solícito. Era rei e ídolo mas se comportava como se fosse o mais simples integrante da torcida. Sua fisionomia serena parecia estar sempre dizendo ?o que eu posso fazer para deixar vocês felizes? ?

Você só precisava continuar conosco, Assis. Seria o que nos deixaria felizes. Mas o Assis que brilhou nos dois domingos citados acima e em tantos outros domingos, nos deixou justamente num dia de domingo, como já fizera seu companheiro Washington, há pouco mais de 40 dias.

Os dois domingos de partida de Washington e Assis foram terrivelmente tristes para todos os tricolores. Mas agora nos resta o consolo de que o Casal 20 está junto novamente, para arrasarem no futebol do Céu e para conquistarem novas legiões de fãs agora nas esferas superiores.

Descanse em paz Assis, ídolo eterno! Jamais o esqueceremos!

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